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Já disponível no Prime Video, o filme Pimpinero: Sangue e Gasolina (2024) tem chamado a atenção por suas similaridades visuais com obras como Velozes e Furiosos (2001) e Mad Max (1979). No entanto, a sua proposta não é ser uma ficção de carros tunados pilotados por criminosos viciados em adrenalina, tampouco uma distopia, mas um retrato cru do que acontece na fronteira da Colômbia com a Venezuela.

Após 10 anos dedicados a séries como NarcosGriselda Sandman, o diretor Andrés Baiz volta seus holofotes para essa questão. Em entrevista ao OVício, ele abordou as comparações, reforçando que elas ocorrem por motivos orgânicos e que não foi sua intenção referenciar diretamente essas franquias.

"Se as pessoas comparam com Mad Max (1979) e Velozes e Furiosos (2001), acredito que seja devido aos elementos em comum, como gasolina, deserto e vestimentas", disse Baiz. "No entanto, sempre enfatizei para os líderes dos departamentos de produção — direção de fotografia, direção de arte e todos os envolvidos — que não desejávamos referenciar diretamente essas franquias, pois a estética do filme já estava intrinsicamente presente no roteiro e no universo da história."

É curioso que Pimpinero (2024) esteja sendo comparado a Mad Max (1979), uma obra distópica que se propõe a estudar a natureza humana e sua capacidade de se adaptar aos piores contextos possíveis. Mais curioso ainda é que Laura Osma, intérprete da personagem Diana, ao conversar com OVício, tenha definido o filme de forma organicamente similar.

"O filme mostra como os desafios da vida nos moldam. Dentro desses desafios, encontramos uma gama de emoções: raiva, dor, ressentimento, perdão, desengano e resiliência", disse Osma. "A grande premissa do filme é que todos seguimos caminhos diferentes, mas no fim, estamos buscando o mesmo destino, mesmo sem saber qual é."

Talvez exista algo além das similaridades visuais que ligue Pimpinero (2024) a Mad Max (1979), mas para aprofundar essa análise, é preciso compreender a obra de Andrés Baiz e seu processo de criação.

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Pimpinero (2024) tem paisagens incríveis do deserto de La Guajira (Reprodução/Amazon MGM Studios)

"Pimpinero" é uma palavra que evoca uma imagem de alguém que vive à margem da lei, aventurando-se em situações perigosas e enfrentando desafios constantes. Na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela, esse título é atribuído aos contrabandistas de gasolina da "caravana da morte". Em meados de 2012, essa perigosa atividade tornou-se um fenômeno socioeconômico na região de La Guajira, devido à grande queda no preço do combustível na Venezuela.

A operação parecia simples: atravessar o deserto carregado de galões vazios, adquirir gasolina a centavos na Venezuela e revendê-la por um valor vinte a trinta vezes superior na Colômbia. No entanto, essa atividade ilícita implicava em sérias consequências, como a evasão fiscal, o fortalecimento de organizações criminosas e a proliferação de outros crimes, tais como tráfico de pessoas, drogas e armas, lavagem de dinheiro e extorsão. Em outras palavras, para ser um pimpinero, era necessário enfrentar não apenas as forças policiais, mas também diversas facções criminosas, rivais no trajeto e as inclemências do deserto. Além disso, o transporte clandestino de combustível representava um grave risco ambiental.

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Músico colombiano, Juanes faz estreia como ator em Pimpinero (2024). Ele interpreta Moisés, o irmão mais velho do Clã Estrada (Reprodução/Amazon MGM Studios)

Andrés Baiz tomou conhecimento dessa atividade em 2014, durante as filmagens de episódios de Narcos em La Guajira. Na ocasião, ficou completamente intrigado ao testemunhar uma fila de pimpineros tentando atravessar a fronteira. O diretor passou os 10 anos seguintes tentando construir a história ideal para apresentar esse fenômeno ao mundo.

"A ideia de Pimpinero (2024) surgiu e começou em 2014, um ano após o lançamento de Roa (2013). Demorei muitos anos para encontrar a história que desejava contar. Colaborei com diversos roteiristas, mas nunca conseguimos chegar a uma narrativa que me satisfizesse. Enquanto isso, trabalhei em projetos como Narcos, Narcos: México, Sandman e Griselda. Somente após encontrar Maria Camila Arias, que co-escreveu o roteiro comigo, consegui dar forma à história", nos contou o diretor. "Foram 10 anos buscando, tentando financiar e conceituando o projeto. Quando finalmente realizei Pimpinero (2024), eu já era uma pessoa diferente. Dez anos se passaram e eu havia mudado."

Junto a Maria Camila Arias, Baiz decidiu por moldar a história do filme em volta do núcleo de Juan (Alejandro Speitzer) e Diana (Laura Osma), um casal de pimpineros profundamente atingido pelas consequências do negócio. Desta forma, ele conseguiu fazer algo político e intimista, que ao mesmo tempo também funciona como uma saga de vingança.

JuanDiana representam o coração do filme (Reprodução/Amazon MGM Studios)

Essa decisão criativa atribuiu a Laura Osma um papel complexo, pois coube a ela representar a virada de tom planejada pelo diretor, atravessando todas as fronteiras temáticas do filme.

"Uma das coisas mais importantes do filme é o Alejandro [Speitzer, intérprete de Juan]. Ele é como um retrato da inocência, alguém que mantém essa pureza. Já a Diana representa justamente essa perda da inocência que todos nós experimentamos ao longo da vida", refletiu Osma. "Essa é uma jornada muito difícil, especialmente quando enfrentamos as duras provações."

Encontrar uma história satisfatória foi crucial para Andrés Baiz, mas outros desafios se apresentaram. O principal deles era filmar em La Guajira.

A região predominantemente habitada pela população indígena Wayúu, é profundamente afetada pela desertificação, escassez hídrica e corrupção, o que resulta em uma taxa de pobreza de 67,4% da população (Via France Presse).

Banhada pelo Mar do Caribe ao norte e ao oeste, La Guajira faz fronteira com a Venezuela a leste (Reprodução/Google Maps)

La Guajira chamou a atenção do mundo em 2021, quando se divulgou que sua taxa de mortalidade infantil, para crianças menores de 5 anos, é superada apenas pela da Síria (Via G1). Acredito que já ficou evidente que se trata de um local inóspito. Foi para esse lugar que Andrés Baiz levou uma grande equipe, diversos veículos e toneladas de equipamentos de filmagem.

"Foi um projeto muito, muito complicado de realizar. A cada dia de filmagem, eu temia que tudo desmoronasse como um castelo de cartas, devido à grande quantidade de locações, ao número de pessoas envolvidas e às dificuldades de La Guajira, que possuía pouca infraestrutura", admitiu o diretor. "Tivemos que construir tudo: os pátios de gasolina, as ruas onde vendem combustível, a casa de Don Carmelo, e até a Rancheria Wayúu."

Como parte do elenco, Laura Osma relatou um pouco sobre as filmagens no deserto. Embora tenha sido um trabalho exaustivo, o clima no set apresentava momentos divertidos.

"Aconteceram muitas coisas inusitadas conosco, sabe? Trabalhando em um deserto, atolamos os carros, às vezes faltava energia e, por vezes, a estrada simplesmente desaparecia. Os locais eram muito remotos, então tínhamos que dirigir cerca de duas horas da base até o set", revelou Laura. "Acho que o mais divertido foi compartilhar tanto tempo com o Alejandro [Speitzer, intérprete de Juan] e o Alberto [Guerra, intérprete de Ulises], porque éramos praticamente uma família. Estávamos sempre metidos em momentos engraçados que nos faziam rir muito, mas também havia momentos de exaustão em que ninguém queria mais falar com o outro. A filmagem foi muito intensa, mas também incrível."

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Sets foram construídos através de acampamentos no deserto (Reprodução/Instagram/Laura Osma)

A responsabilidade sobre os ombros de Andrés foi imensa, e o diretor compreendia a magnitude do desafio desde a concepção inicial do roteiro. Mesmo assim, ele não quis reduzir a escala da ação e evitou o uso demasiado de atalhos digitais na construção do cenário.

"O motivo de chamarmos a produção de 'pimpinero' é que, afinal de contas, estávamos filmando em um local sem infraestrutura, um lugar inóspito, onde enfrentávamos desafios que surgiam a cada dia e sobre os quais tínhamos pouco controle", disse Baiz. "Havia muita ação, mas o mais importante era o território, o local, que era muito desafiador de filmar."

Laura é testemunha do quão detalhista Andrés foi na construção visual do longa. Há um curta cena de sua personagem sendo raptada que levou uma noturna inteira para ser filmada.

"Apesar de ser curta, [a cena da discussão entre o Ulisses e Miguel] levou um dia inteiro para ser filmada, das cinco da tarde até as cinco e meia da manhã", confessou Laura. "Repetia-se a mesma cena várias vezes, porque era muito difícil capturar exatamente o que queríamos transmitir. Então, essa foi a mais complicada, também porque tinha a parte da ação, com o Juan Sebastián Calero me segurando, e precisávamos encontrar diferentes ângulos para mostrar a luta de forma eficaz."

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Produção envolveu múltiplos veículos e construções de vilas inteiras (Reprodução/Instagram/Laura Osma)

A atriz, que também participou de grandes produções como El Chapo, Gol Contra e Del Otro Lado Del Jardín, não hesita em afirmar que, até o momento, Pimpinero (2024) é a produção de maior escala da qual já fez parte. Além disso, ela admite ter tido uma experiência colaborativa bastante enriquecedora com Andrés Baiz.

"Sou completamente apaixonada pelo trabalho de Andrés Baiz, e também pela pessoa incrível que ele é. Acredito que a capacidade de escuta de um diretor e a entrega que ele tem com seus atores é algo totalmente recíproco. O Andrés é um diretor que se abre para seus atores, o que gera uma confiança enorme, pois ele te escuta e você, como ator, é capaz de fazer qualquer coisa que ele peça para alcançar o objetivo, não é mesmo?", refletiu Laura. "Não é por um capricho do diretor, mas porque ele tem uma visão clara e te escuta, valorizando suas ideias."

Quando o assunto é escala, Baiz também não hesita em colocar Pimpinero (2024) entre seus trabalhos mais difíceis. Para o diretor, fazer o filme foi uma pressão muito maior do que dirigir episódios de uma propriedade tão consagrada da DC Comics como Sandman.

"Uma série como Sandman, por exemplo, é gravada em grande parte em estúdio, em sets muito controlados. E, obviamente, são produções com um orçamento muito alto, onde grande parte dos efeitos visuais é adicionada na pós-produção. Em nosso caso, quase tudo foi feito durante as filmagens", enfatizou o diretor. "Era preciso estar presente no local. Portanto, Pimpinero (2024) foi logisticamente muito mais complexo. A produção foi muito mais desafiadora."

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Produção envolveu cerca de 300 pessoas (Reprodução/Instagram/Laura Osma)

Com o espírito de um cineasta desbravador, Andrés ponderou todos os riscos, percebendo que havia mais obstáculos do que incentivos para a realização do filme. No entanto, fascinado pelo universo da história, decidiu seguir em frente.

"O desejo de realizar esse filme era tão grande que me impulsionou a seguir em frente. Adorava o universo da história, principalmente o contexto político", admitiu Baiz. "O ofício do contrabandista me fascinava e eu imaginava um filme visualmente impactante."

Sei que você deve estar pensando que esse desejo não foi barato. De fato, não foi. O diretor preferiu não comentar sobre o orçamento, limitando-se a dizer: "Eu prefiro que um produtor lhe responda isso com mais detalhes". Entretanto, revelou que os incentivos fiscais colombianos foram fundamentais para a realização da obra.

"O que você precisa saber é que na Colômbia existe um incentivo fiscal e um reembolso de impostos muito significativo, onde filmes com orçamentos elevados como este permitem que a pessoa ou empresa que financia recupere uma grande parte do valor investido, graças a uma lei específica.", enfatizou Baiz.

A Lei 1556, de 2012, instituída com o objetivo de atrair produções internacionais, tem contribuído significativamente para o aumento da produção audiovisual de nível internacional na Colômbia. Essa legislação complementa a Lei 814, de 2003, que incentiva a produção nacional.

O país dispõe de dois principais incentivos fiscais para a produção audiovisual: o Fundo de Cinema da Colômbia (FFC) e o Certificado de Investimento Audiovisual (CINA). Segundo dados oficiais, a produção de Pimpinero (2024) utilizou o CINA, que concede um reembolso de 35% do custo total da produção por meio de créditos fiscais (Via LocationColombia).

Produções de nível internacional que recorreram aos incentivos CINA e FFC recentemente (Reprodução/ScreenDaily)

A importância de um incentivo como esse transcende a esfera artística, uma vez que possibilita a documentação e a disseminação de narrativas sobre o povo colombiano em âmbito global. Pimpinero (2024), por exemplo, traz luz para uma realidade pouco retratada, mesmo para a população da Colômbia.

"Veja bem, mesmo na Colômbia, muitas pessoas desconhecem esse ofício e esse fenômeno social, econômico e político que ocorre na fronteira com a Venezuela", confessou Andrés Baiz. "Inclusive, a palavra 'pimpinero' não é conhecida por grande parte da população colombiana. Assim como no Brasil, na própria Colômbia também há pouco conhecimento sobre o assunto."

Essa declaração de Baiz provoca reflexão, pois, assim como na Colômbia, a fronteira do Brasil com a Venezuela é um assunto superficialmente debatido.

Em agosto de 2024, o governo federal estimou que 510 mil venezuelanos vivem no Brasil. Você provavelmente já viu algum por aí. No entanto, já se perguntou sobre tudo essas pessoas tiveram que passar para chegar até aqui?

Pesquisadores do Grupo de Estudo Interdisciplinar sobre Fronteiras (Geifron), da UFRR (Universidade Federal de Roraima), identificaram ao menos 309 vítimas do tráfico de pessoas em Roraima desde 2022. As vítimas incluem mães com filhos, crianças, e pessoas LGBTQIA+. Mulheres migrantes de Venezuela e Guiana são as principais vítimas (Via G1).

Ainda há problemas com alguns venezuelanos que trabalham em grandes centros em condições análogas à escravidão. Além disso, a fronteira tem se tornado uma base estratégica para o garimpo ilegal na terra indígena Yanomami.

A questão da fronteira é delicada. Em meio a explosões, sangue e perseguições de carro, Pimpinero (2024) retrata isso com muita força, tornando impossível discutir o filme sem falar sobre fronteiras. Esse foi o grande êxito de Andrés Baiz com a obra.

"Meu objetivo é chamar a atenção para a realidade da fronteira entre os dois países, que reflete muitas outras fronteiras ao redor do mundo. A complexidade do tema da imigração, como vemos nos Estados Unidos, é um exemplo. Na Colômbia, a chegada de muitos venezuelanos está gerando casos de xenofobia", alertou o diretor. "O filme busca, portanto, trazer holofotes para essa situação, promover a empatia, fornecer informações mais precisas sobre o que está acontecendo e, principalmente, gerar emoção e solidariedade com os problemas e conflitos dessa fronteira."

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O cubano Alberto Guerra interpreta o contrabandista Ulises, o irmão do meio de Moisés e Juan (Reprodução/Amazon MGM Studios)

Por definição, uma distopia é uma representação distante e fictícia de uma sociedade opressiva, desumana e totalitária. Mad Max (1979) atende a esse gênero por retratar um mundo de recursos naturais escassos, onde as pessoas fazem o que é preciso para sobreviver.

Além dos carros, da luta por gasolina e do deserto, Pimpinero (2024) também lembra Mad Max (1979) em temática. O que é assustador, pois, ao contrário do clássico de George Miller, o filme de Andrés Baiz não é uma distopia, mas um retrato da realidade.

Parece que nossas distopias não estão tão distantes quanto imaginávamos.

Leia também sobre Pimpinero e Prime Video

Perguntas e respostas - Andrés Baiz

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Reprodução/Instagram

Você está afastado do cinema desde Roa (2013). Desde então, dedicou-se por 11 anos à televisão e ao streaming. Por que Pimpinero (2024) pareceu o projeto ideal para esse retorno?

Sim, você está absolutamente certo. Se passaram 10, 11 anos de Roa (2013) até esse filme. O que é importante entender é que a ideia de Pimpinero (2024) surgiu e começou em 2014, um ano após o lançamento de Roa (2013). Demorei muitos anos para encontrar a história que desejava contar. Colaborei com diversos roteiristas, mas nunca conseguimos chegar a uma narrativa que me satisfizesse. Enquanto isso, trabalhei em projetos como Narcos, Narcos: México, Sandman e Griselda. Somente após encontrar Maria Camila Arias, que co-escreveu o roteiro comigo, consegui dar forma à história.

Foram 10 anos buscando, tentando financiar e conceituando o projeto. Quando finalmente realizei Pimpinero (2024), eu já era uma pessoa diferente. Dez anos se passaram e eu havia mudado. No entanto, o desejo de realizar esse filme era tão grande que me impulsionou a seguir em frente. Adorava o universo da história, principalmente o contexto político. O ofício do contrabandista me fascinava e eu imaginava um filme visualmente impactante. Foram 10 anos tentando concretizar esse sonho e, no final, eu era outra pessoa.

Algumas pessoas estão reagindo ao filme como algo inspirado em Velozes e Furiosos (2001) e Mad Max (1979), mas, particularmente, enxergo mais como um um retrato cru da fronteira entre a Colômbia e a Venezuela de uma década atrás. Acredito que as pessoas façam essa comparação por haver pouca informação disponível sobre os pimpineros no mundo. Aqui no Brasil, por exemplo, é difícil encontrar registros sobre esse fenômeno socioeconômico. Qual impacto você queria gerar na audiência ao apresentar essa realidade ao mundo?

Ótima pergunta. Veja bem, mesmo na Colômbia, muitas pessoas desconhecem esse ofício e esse fenômeno social, econômico e político que ocorre na fronteira com a Venezuela. Inclusive, a palavra 'pimpinero' não é conhecida por grande parte da população colombiana. Assim como no Brasil, na própria Colômbia também há pouco conhecimento sobre o assunto.

Se as pessoas comparam com Mad Max (1979) e Velozes e Furiosos (2001), acredito que seja devido aos elementos em comum, como gasolina, deserto e vestimentas. No entanto, sempre enfatizei para os líderes dos departamentos de produção — direção de fotografia, direção de arte e todos os envolvidos — que não desejávamos referenciar diretamente essas franquias, pois a estética do filme já estava intrinsicamente presente no roteiro e no universo da história.

Concordo com você que se trata de um drama mais cru, que tem contexto político e é visceral. Meu objetivo é chamar a atenção para a realidade da fronteira entre os dois países, que reflete muitas outras fronteiras ao redor do mundo. A complexidade do tema da imigração, como vemos nos Estados Unidos, é um exemplo. Na Colômbia, a chegada de muitos venezuelanos está gerando casos de xenofobia. O filme busca, portanto, trazer holofotes para essa situação, promover a empatia, fornecer informações mais precisas sobre o que está acontecendo e, principalmente, gerar emoção e solidariedade com os problemas e conflitos dessa fronteira.

Você esteve em La Guajira, creio que para a produção de Narcos, sim? Isso ajudou a evitar imprevistos na produção de Pimpinero (2024)? Refiro-me a questões de orçamento e logística.

Foi um projeto muito, muito complicado de realizar. A cada dia de filmagem, eu temia que tudo desmoronasse como um castelo de cartas, devido à grande quantidade de locações, ao número de pessoas envolvidas e às dificuldades de La Guajira, que possuía pouca infraestrutura. Tivemos que construir tudo: os pátios de gasolina, as ruas onde vendem combustível, a casa de Don Carmelo, e até a Rancheria Wayúu.

A logística de tantos veículos, além da necessidade de alimentar e hidratar toda a equipe, foi um desafio constante. Foi um processo intenso, com problemas e desafios a cada dia. Conseguimos finalizar o projeto graças a um time muito profissional que trabalhou em conjunto de forma excelente. No entanto, enfrentamos diversos obstáculos, como paralisações políticas que bloqueavam as rodovias e problemas de segurança. Apesar de todas as dificuldades, conseguimos superar cada desafio. Fazer cinema é difícil em qualquer circunstância, mesmo em um apartamento ou em uma casa pequena. Agora, imagine realizar uma produção como essa, com tantas locações, em um lugar tão remoto, com tantos veículos Foi ainda mais complexo do que eu imaginava.

Aliás, você pode dizer por estimativa quando o filme custou?

Eu prefiro que um produtor lhe responda isso com mais detalhes. O que você precisa saber é que na Colômbia existe um incentivo fiscal e um reembolso de impostos muito significativo, onde filmes com orçamentos elevados como este permitem que a pessoa ou empresa que financia recupere uma grande parte do valor investido, graças a uma lei específica.

Em qual tipo de projeto é mais difícil trabalhar: filmes como Pimpinero (2024) ou adaptações de obras de grandes propriedades como Sandman?

Pimpinero (2024). O motivo de chamarmos a produção de 'pimpinero' é que, afinal de contas, estávamos filmando em um local sem infraestrutura, um lugar inóspito, onde enfrentávamos desafios que surgiam a cada dia e sobre os quais tínhamos pouco controle. Havia muita ação, mas o mais importante era o território, o local, que era muito desafiador de filmar.

Uma série como Sandman, por exemplo, é gravada em grande parte em estúdio, em sets muito controlados. E, obviamente, são produções com um orçamento muito alto, onde grande parte dos efeitos visuais é adicionada na pós-produção. Em nosso caso, quase tudo foi feito durante as filmagens. Era preciso estar presente no local. Portanto, Pimpinero(2024) foi logisticamente muito mais complexo. A produção foi muito mais desafiadora.

Perguntas e respostas - Laura Osma

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Reprodução/Instagram

Sua personagem é a grande protagonista da história e a responsável por fazer o público perceber a virada de tom do filme. Acredito que esse não tenha sido um trabalho simples, pois você não pode parecer como duas pessoas diferentes, mas como alguém que perde a inocência ao longo do tempo e vive dois momentos distintos. Como você construiu esses aspectos conflitantes de uma Diana que começa radiante e aos poucos se torna uma personagem sisuda e vingativa, sem parecer estar interpretando duas personagens diferentes?

Veja bem, a verdade é que uma das coisas mais importantes do filme é o Alejandro [Speitzer, intérprete de Juan]. Ele é como um retrato da inocência, alguém que mantém essa pureza. Já a Diana representa justamente essa perda da inocência que todos nós experimentamos ao longo da vida. Essa é uma jornada muito difícil, especialmente quando enfrentamos as duras provações da vida. Acredito que me baseei nessa ideia de que, além da questão das duas personagens distintas, o filme mostra como os desafios da vida nos moldam. E dentro desses desafios, encontramos uma gama de emoções: raiva, dor, ressentimento, perdão, desamor e resiliência.

Então, me inspirei muito nessa ideia de que todos nós passamos por essas experiências, que alguns ficam presos em fases de raiva ou ressentimento por anos, mas que no filme queríamos mostrar essa jornada completa. A grande premissa do filme é que todos seguimos caminhos diferentes, mas no fim, todos estamos buscando o mesmo destino, mesmo sem saber qual é.

Pimpinero (2024) é um filme de ação com forte carga dramática, repleto de cenas de luta corporal e perseguições de carro. Você participa de todas elas. Qual foi a cena mais difícil de filmar?

Olha, a verdade é que todas as cenas foram muito desafiadoras, tínhamos um compromisso muito grande com a produção. Mas se eu tivesse que escolher uma das mais difíceis, diria que foi a cena da discussão entre o Ulisses e o personagem do Juan Sebastián Calero [Miguel]. Aquela cena, apesar de ser curta, levou um dia inteiro para ser filmada, das cinco da tarde até as cinco e meia da manhã. Repetia-se a mesma cena várias vezes, porque era muito difícil capturar exatamente o que queríamos transmitir. Então, essa foi a mais complicada, também porque tinha a parte da ação, com o Juan Sebastián me segurando, e precisávamos encontrar diferentes ângulos para mostrar a luta de forma eficaz.

Este não é o seu primeiro trabalho de ação, mas é o primeiro que faz tendo Andrés Baiz como diretor. O que de novo você pode dizer que adquiriu com essa experiência com o diretor de Narcos e Griselda?

Veja bem, eu sou completamente apaixonada pelo trabalho do Andrés Baiz, e também pela pessoa incrível que ele é. Acredito que a capacidade de escuta de um diretor e a entrega que ele tem com seus atores é algo totalmente recíproco. O Andrés é um diretor que se abre para seus atores, o que gera uma confiança enorme, pois ele te escuta e você, como ator, é capaz de fazer qualquer coisa que ele peça para alcançar o objetivo, não é mesmo? E não é por um capricho do diretor, mas porque ele tem uma visão clara e te escuta, valorizando suas ideias.

Isso me proporcionou uma sensibilidade muito maior e me permitiu alcançar resultados incríveis, porque eu sabia que meu diretor não estava simplesmente impondo sua visão da forma como ele queria o filme, mas sim trabalhando em conjunto comigo e com o roteiro que ele havia criado. E isso foi muito gratificante, pois surgiam coisas maravilhosas.

Pimpinero (2024) foi a produção de maior escala da qual você já participou?

Até agora, sim.

Laura, você trabalhou por algum tempo nas filmagens no meio do nada. Experiências do tipo sempre resultam em boas histórias para contar. Houve algum perrengue engraçado que você teve que lidar trabalhando no deserto de La Guajira?

Aconteceram muitas coisas inusitadas conosco, sabe? Trabalhando em um deserto, atolamos os carros, às vezes faltava energia e, por vezes, a estrada simplesmente desaparecia. Os locais eram muito remotos, então tínhamos que dirigir cerca de duas horas da base até o set. Lembro de momentos bem engraçados. Acho que o mais divertido foi compartilhar tanto tempo com o Alejandro [Speitzer, intérprete de Juan] e o Alberto [Guerra, intérprete de Ulises], porque éramos praticamente uma família. Estávamos sempre metidos em momentos engraçados que nos faziam rir muito, mas também havia momentos de exaustão em que ninguém queria mais falar com o outro. A filmagem foi muito intensa, mas também incrível.



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